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Opinião: O governador, o escândalo da Cruz Vermelha, a caixa de vinho e as ligações perigosas

O governador João Azevedo está sendo mal informado ou mal treinado para falar sobre a operação Calvário, especialmente na parte que envolve a relação do governo do Estado da Paraíba com a Cruz Vermelha.

É o que dá para se entender das respostas que o novo governador deu à imprensa na tarde desta segunda-feira, na Assembleia Legislativa.

Para João, não há razão para exonerar os secretários Waldson Sousa e Livânia Farias (Planejamento e Administração, respectivamente), e sequer de investiga-los, já que a participação de ambos na relação teria sido apenas de preparar a qualificação da organização Cruz Vermelha e assinar contrato, lá em 2011.

Não é exatamente isso que revelam os poucos dados divulgados da investigação do Ministério Público. Não são poucas as mensagens de Michelle Cardoso, braço direito de Daniel Gomes, apontado como chefe da organização criminosa, colocando Waldson Sousa no centro do escândalo. Existem provas de viagens dela à Paraíba para a entrega de dinheiro.

Está sobejamente comprovado na investigação que um assessor da secretária Livânia Farias, o diretor de Contratos da Secretaria de Administração, Leandro Azevedo, preso na última sexta-feira e demitido pelo governador uma semana antes, esteve no Rio de Janeiro em agosto de 2018 para pegar propina em caixa de vinho.

Sobre este fato, o governador João Azevedo resolveu desdenhar e, em tom de blague, afirmou que não existe prova de que havia dinheiro dentro da caixa.

Parece que não avisaram ao governador que o Ministério Público tem conversas gravadas de Michelle Cardoso pedindo insistentemente escolta para transportar a caixa e seu conteúdo até o hotel onde estava Leandro. O que haveria naquela caixa a exigir tanta segurança? Horror. Se não dinheiro, somente drogas, joias ou pedras preciosas justificaria tamanha preocupação. A linha de defesa ensaiada pelo governador, neste caso, torna a emenda bem pior do que o soneto.

Existe ainda o registro de um telefonema de Waldson Sousa para Leandro Azevedo justo no momento em que ele se encontrava no Rio de Janeiro para pegar a caixa. Por que Waldson ligaria para Leandro, que não era um servidor qualquer, uma vez que ocupa cargos importantes nas gestões socialistas desde 2009, na Prefeitura de João Pessoa?

Sem falar que as investigações do Ministério Público, conforme reportagem da TV Cabo Branco, também captaram provas de pelo menos seis telefonemas de Coriolano Coutinho, irmão do ex-governador Ricardo Coutinho, para o chefão da Cruz Vermelha. Por que o irmão do governador, que não exercia nenhum cargo oficial do governador, mantinha tão estreita ligação com o homem acusado de graves crimes e de desvio de recursos?

Ainda não se sabe muita coisa das investigações, mas, pelo pouco que se deu conhecimento à opinião pública, há indícios de que agentes do governo ou o próprio governo está no meio do vendaval do escândalo.

Por estas e outras, talvez fosse melhor ao governador levar a sério este escândalo da Cruz Vermelha e não brincar com a caixa de vinho.

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