O presidente americano Donald Trump anunciou a aplicação de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos brasileiros, insinuando uma sanção contra atitudes das instituições brasileiras pelo julgamento de Jair Bolsonaro e sua derrota nas eleições de 2022. As taxas entrarão em vigor no dia 1º de agosto.
O UOL apurou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está reunido com gabinete e com o chanceler Mauro Vieira para avaliar uma resposta. Nos últimos dias, não se descartava a convocação da embaixadora do Brasil em Washington, como gesto de repúdio.
A decisão marca uma escalada na tensão e é inédita na relação entre os dois países. Nem mesmo no regime militar (1964-1985), apesar da pressão de Jimmy Carter, medidas comerciais foram adotadas contra o Brasil por conta dos abusos de direitos humanos, tortura e desmonte da democracia.
Trata-se, por enquanto, da maior tarifa anunciada por Trump contra um governo estrangeiro para entrar em vigor a partir de agosto.
“Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (conforme ilustrado recentemente pela Suprema Corte do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e INJUSTAS para plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de até R$ 1 milhão e expulsão do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todo e qualquer produto brasileiro enviado para os Estados Unidos, além de todas as tarifas setoriais”, disse Trump em carta enviada para o presidente Lula nesta quarta-feira e postada das redes sociais.
Segundo ele, os bens que tentarem “evadir” a taxa, usando mercados terceiros para driblar as barreiras, serão alvos de taxas ainda maiores.
A elevação de tarifas usando motivos políticos é proibida pelo direito comercial internacional. Mas, diante do desmonte da OMC (Organização Mundial do Comércio), o Brasil não terá como agir nos tribunais da entidade para reverter a medida.
Por semanas, o governo brasileiro enviou delegações para Washington e ministros como Mauro Vieira, Fernando Haddad e Geraldo Alckmin se reuniram com negociadores americanos. O UOL apurou que o Brasil chegou a fazer uma oferta e que, por dias, a Casa Branca se manteve em silêncio. A percepção de alguns no governo era de que não estava claro qual seria o argumento que Trump usaria para negociar com o Brasil.
Entre os técnicos envolvidos no diálogo bilateral, um dos temores era exatamente a instrumentalização política das tarifas.
Horas antes do anúncio, feito por meio de uma carta ao governo brasileiro, Trump havia sinalizado que o Brasil seria um dos afetados. Num evento com presidentes africanos, ele criticou o tratamento dado pelo Brasil aos produtos americanos e, ainda que a pergunta não se referisse ao país, ele fez questão de destacar sua insatisfação com o governo Lula.
“O Brasil, por exemplo, não tem sido bom para nós, nada bom”, disse. Trump explicou que as tarifas estão sendo calculadas a partir de “dados” e do histórico do comércio nos últimos anos. Hoje, os americanos contam com um saldo positivo na balança comercial com o Brasil.
Desde segunda-feira, Trump tem disparado cartas a pelo menos 25 governos de todo o mundo, depois de três meses de prazo estabelecido por ele para que acordos pudessem ser fechados. A promessa, porém, de 90 acordos em 90 dias fracassou e a Casa Branca adiou para agosto a aplicação das novas tarifas.
No caso do Brasil, a taxa anunciada em 2 de abril – de 10% – era a mais baixa entre todas as mais de 180 economias que foram alvo de barreiras de Trump. O país, porém, sofre taxas de 50% sobre o aço.
O UOL apurou que, na última sexta-feira, delegações dos dois países se reuniram por videoconferência para buscar um entendimento. Há duas semanas, o governo brasileiro havia feito uma oferta de redução de certas tarifas, sob a condição de que os americanos também adotassem uma postura semelhante. Mas, por dias, a proposta ficou sem uma resposta por parte da Casa Branca.
Crédito: Uol
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