O Coordenador do Núcleo Nacional dos Evangélicos do PT, o pastor Oliver Costa Goiano afirmou que tem levado ao presidente Lula (PT) os desafios do campo da esquerda junto ao eleitorado evangélico. A meta para as próximas eleições, caso Lula decida se candidatar à reeleição, é aumentar em pelo menos 10% as intenções de voto de eleitores evangélicos.
O pastor, que diz sofrer críticas dentro e fora da legenda, defende ainda que é preciso “vencer a batalha da comunicação” e evitar pautas consideradas identitárias que, segundo ele, afastam o eleitorado conservador. Na avaliação de Goiano, o futuro da sigla depende dos evangélicos e o caminho é a aproximação do grupo mais moderado.
Lula tem que aparecer mais com pastores
O pastor, que coordena o grupo de evangélicos petistas criado em 2015, tem sinalizado ao presidente Lula caminhos para se aproximar do eleitor evangélico. “Alertamos o presidente que existe um desafio ético e estético. A moralidade humana não pode pautar o debate público. A direita comete esse erro e isso faz com que ela engaje nas redes sociais”, afirmou.
“Lula precisa ter fotos com os pastores com a mão na cabeça dele. A igreja evangélica é um ator importantíssimo, o país é evangélico em termos de engajamento. É um erro quando a esquerda zomba dos cultos evangélicos. Há uma ideia errada em achar que o evangélico é manipulável”.
“Nossa oração é para que o presidente Lula acelere as mudanças que ele tem dito que vai fazer [ampliar linhas de crédito para evangélicos]. Mas Lula ainda tem que ‘se apresentar’ ao povo evangélico, tem que tirar foto com pastor, fazer vídeo com pastor”.
“Infelizmente, o pragmatismo está nos movendo, temos um muro que não estamos conseguindo ultrapassar, a realidade nos mostra que temos que mudar. O PT é um grande transatlântico e para fazer a volta vai levar um tempo”.
Evangélicos no PT
O pastor afirma que o núcleo tem tido conversas com o presidente nacional interino da legenda, o senador Humberto Costa (PT-PE), e deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) para que os evangélicos tenham mais visibilidade dentro da sigla. O pastor diz que ele também tem mantido conversas com o prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá (PT). A prioridade, segundo ele, é levar o presidente Lula a igrejas e aos cultos.
“O núcleo evangélico do PT ainda não está tão poderoso quanto precisa para ajudar o partido a furar a bolha entre os evangélicos, mas está melhor do que antes. Estamos nos tornando uma voz ouvida pelo nosso presidente Lula. Estamos quebrando resistências dentro do partido para sermos uma voz ouvida”.
“Gleisi [Ministra de Secretaria de Relações Institucionais] deu mais notabilidade para o núcleo. Oramos a Deus para que o novo presidente do PT, seja lá qual for, dê protagonismo ao núcleo evangélico do PT, que pode nos ajudar a vencer essa última fronteira”.
“A candidatura do Rui Falcão à presidência do PT, na minha visão, não dialoga com a sociedade. O PT não precisa ir mais para a esquerda”.
Metas para 2026
No ano passado, o pastor chegou a afirmar que se cada cidade lançasse um pastor candidato pelo PT, a sigla conseguiria “furar a bolha” e ampliar a presença de petistas entre os evangélicos. A meta, porém, não foi alcançada. Para 2026, Goiano afirma que o objetivo é aumentar o percentual de intenções de voto do eleitorado evangélico em pelo menos 10%, caso o presidente Lula se candidate à reeleição.
“A meta é obter [ampliação de votos entre fieis] com candidaturas evangélicas, ter pastores, tirar o falso axioma de que um evangélico não pode ser de esquerda. Ser de esquerda é normal. A candidatura de um pastor fura a bolha. Ele ganhando ou não ganhando, fortalece o debate”.
Futuro do PT depende das igrejas
Goiano afirma que a aproximação do PT e do governo com o segmento deva ocorrer por meio do eleitor evangélico moderado. O petista vislumbra articulações com a Assembleia de Deus e Igreja Universal. “Temos que ter um público-alvo: a Assembleia de Deus, representada pela mulher negra. É a igreja que mais tem negros no país”, disse. “Com ela é possível caminhar ao centro, com um discurso moderado.”
“A resistência de estar em uma reunião com mais pastores está diminuindo no coração do presidente Lula”.
“A Universal tem deputados muito importantes para nós. O bispo Edir Macedo precisa muito da ajuda do presidente com os negócios dele na África. O governo Lula fez relações sul-sul muito importantes. A Universal não deve aderir de novo ao bolsonarismo”.
“O caminho do presidente é se aliar ao evangélico moderado, falar da família, ele tem falado mais da mãe dele. De 2018 para cá, o PT se aproximou muito da igreja evangélica, mas não tínhamos a polarização que temos hoje. Nossa luta é mostrar que é normal o evangélico votar na esquerda”.
“O futuro de qualquer sociedade depende do grupo mais organizado. Não existe no Brasil uma instituição mais poderosa do que a igreja evangélica. Ela se tornou esse fenômeno cultural ao chegar a todas as classes sociais. O futuro do PT também depende das igrejas evangélicas”.