O dólar comercial encerrou esta sexta-feira (29) com alta de 0,17%, sendo negociado acima da marca histórica de R$ 6,00. A moeda americana registrou valorização de 3,8% em outubro, fechando o mês em R$ 5,78. No entanto, o maior impacto foi observado nesta semana, com um aumento acumulado de 3,21%, impulsionado por tensões fiscais e incertezas econômicas.
Pacote fiscal de Fernando Haddad gera dúvidas no mercado
O principal fator para a alta do dólar foi o anúncio do pacote de contenção de gastos do governo federal, feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quarta-feira (27). O plano, que prevê uma economia de R$ 70 bilhões, inclui medidas como a revisão do cálculo do salário mínimo e de benefícios sociais.
Apesar disso, o mercado reagiu mal à decisão de incluir a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, que resultará em uma renúncia fiscal de R$ 35 bilhões anuais. Analistas consideram a medida contraditória, uma vez que o governo tenta cortar gastos enquanto abre mão de receitas significativas.
“É uma sinalização de pouco comprometimento com a âncora fiscal. Ao mesmo tempo em que se corta gastos, anuncia-se uma redução de receita”, destacou Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.
Dívida pública e instabilidade econômica
De acordo com Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, o pacote é insuficiente para estabilizar a dívida pública no longo prazo. “As medidas propostas não alteram estruturalmente o lado das despesas e oferecem apenas um alívio temporário até 2026”, afirmou.
O sentimento de incerteza é reforçado pela falta de avanços significativos nas negociações entre Haddad e o Congresso, o que eleva o risco percebido pelos investidores.
Influência externa: política econômica dos EUA pesa na cotação
A valorização do dólar não é motivada apenas por questões internas. Nos Estados Unidos, a transição do governo para o presidente eleito Donald Trump gera expectativas sobre medidas econômicas que podem fortalecer a economia americana, mas também aumentar a inflação e pressionar a cotação do dólar globalmente.
“Embora seja improvável que o dólar se mantenha acima de R$ 6 de forma permanente, a volatilidade deve persistir enquanto não houver clareza sobre as questões fiscais no Brasil e nos EUA”, analisou Kelly Massaro, presidente-executiva da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam).
CNN Brasil