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ANÁLISE: O conflito entre bolsonaristas e jornalistas, os excessos dos dois lados e a importância da autocrítica

Todo fato tem os dois lados. O profissional de imprensa tem a obrigação de narrá-los com a maior precisão. A confusão generalizada, ontem, entre os jornalistas e os aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem Partido), durante visita da primeira-dama da República, Michele Bolsonaro, com xingamentos e provocações de ambos os lados, é um caso para analisar com lucidez, sem as paixões que cercam o tema.

Primeiro, registrar minha total e irrestrita solidariedade às jornalistas Iracema Almeida, do Jornal A União e Sandra Macedo, do Sistema Correio. Nada justifica tamanha agressão verbal e violência contra a mulher. Na minha percepção, os xingamentos foram criminosos, covardes e merecem punição. Não dar para tolerar tamanha violência e desproporcionalidade.

Entretanto, apesar da minha solidariedade enquanto cidadão e profissional de imprensa – inclusive, na hora da confusão, também, me posicionei em defesa dos colegas jornalistas – aqui também vai minha crítica à postura de alguns jornalistas. O respeito é o princípio das relações humanas. Alguns profissionais já foram para o evento pré-determinados a insuflar, atacar, desrespeitar.

É óbvio que a provocação faz parte do nosso ofício, e acho fundamental que todo jornalista tenha essa capacidade no exercício profissional, todavia, existe o limite entre a sagacidade provocativa e a agressão e desrespeito. Foi o que presenciei no episódio com a primeira-dama. Uma coisa é durante a entrevista, o jornalista fazer perguntas “picantes”. É saudável para democracia. Outra coisa, totalmente diferente, é o profissional, por mais que tenha o direito, gritar com o entrevistado, com um tom intimidatório. Isso extrapola o exercício da profissão.

Em um país polarizado no debate político, toda ação gera uma reação. Toda agressão gera agressão. Desrespeito provoca mais desrespeito. Foi o que houve. Não estou justificando os atos truculentos dos bolsonaristas. Apenas explicando os fatos. Defendo que a violência praticada pelos aliados do presidente seja resolvida na esfera criminal. Todavia, é necessária autocrítica, também, da imprensa.

Com todo respeito que tenho aos meus colegas de profissão, é inadmissível também, uma jornalista, por mais provocada que seja, reagir com o “Lula, Live”!. O caráter militante não cabe e não combina com o exercício da profissão. Também deve ser repudiado. Somos nós, jornalistas, nesse momento de insanidade política e convulsão social, que devemos ter lucidez e inteligência emocional, para tratar os fatos com isenção.

Para resumir minha linha de raciocínio sobre a confusão: aos bolsonaristas, o rigor da lei para coibir agressões, ataques, atitudes violentas e intimidatórias contra a liberdade de imprensa. Aos jornalistas, meu apelo para análise crítica de determinadas posturas que se confundem com militância política. Com humildade e capacidade de corrigir alguma rotas, certamente, daremos uma contribuição importante e necessária para o fortalecimento da nossa democracia, cuja imprensa livre é um dos pilares, desde que seja ponderada.

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