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Opinião: Porque não dá pra confiar nas pesquisas

Muito se questiona sobre pesquisas na Paraíba. Não sem razão. Os erros já foram muitos ao longo da história recente. Lógico que existem pesquisas sérias, mas, na atual campanha, algumas disparidades, contradições e nuances justificam as muitas desconfianças sobre os levantamentos apresentados até agora. Eis algumas delas, que geram dúvidas cruéis.

Disparidade

Foram divulgadas duas pesquisas esta semana. Uma do Instituto Método, de Recife, contratada pelo Sistema Correio, e a outra, do Ibope, contratada pelo Sistema Cabo Branco. Na primeira, o candidato João Azevedo aparece com 23,5% de intenção de votos e, no Ibope, o socialista surge com 32%. Como, de um dia para outro, pesquisas apresentam números tão díspares, tão diferentes, se os levantamentos foram aplicados praticamente no mesmo período? Estranho, não?

Outra disparidade é a diferença de números, em apenas 26 dias, do candidato João Azevedo na pesquisa do Ibope, que cresceu 15 pontos. Vai sempre aparecer quem diga que é plenamente possível, mas, quem acompanha a cena política do Estado, sabe perfeitamente que não existem essas viradas espetaculares, especialmente quando não há fatos que justifiquem. Aliás, se tem um fato de peso no período foi à explosão por bandidos do presídio PB1, que, em tese, prejudicaria o governo. Curioso, não?

Contraditório

A pesquisa Método/Correio ostenta uma contradição digna de atenção. De acordo com o levantamento, nada menos do que 77,4% dos eleitores paraibanos não estão nem aí para as eleições – 36,6% dizem que estão ‘nada’ interessados e 43,8% se apresentam ‘pouco’ interessados na campanha. Ocorre que, pela pesquisa, 73,7% dos eleitores já estão definidos, com candidatos devidamente escolhidos para governador. Como percentuais tão elevados de eleitores se dizem nada ou pouco interessados na campanha e, imediatamente, já dizem ter um candidato definido para votar? Esquisito, não?

Ilha

Outro fato que chama a atenção e que concorre para aumentar as desconfianças em relação às pesquisas realizadas na Paraíba, especialmente a da Ibope, é o baixo índice de eleitores que manifestam a intenção de votar branco, nulo ou estão indecisos, numa eleição em que a previsão geral é de aumento destas formas de protestos nas urnas.

Segundo o Ibope, divulgado nesta quarta-feira, a Paraíba só tem 15% de eleitores que desejam votar branco ou nulo e outros 4% que estão indecisos, somando, pois, 19%.

Na pesquisa do Correio da Paraíba, divulgada no dia anterior, estes índices são de 26,4%, mais parecidos com o que ocorre no Brasil interior.

Pegando o próprio Ibope, brancos, nulos e indecisos na disputa para presidente, com 13 candidatos e um nível de acirramento mais elevado, somam 28%. Em Pernambuco, são 34%; na Bahia, 27%; em Minas Gerais, 30%; no Rio de Janeiro, 28%; em São Paulo, 25%, e em Rondônia, 29%.

Nas eleições para governador de 2014, no primeiro turno foram registrados 28,20% de votos perdidos (brancos, nulos e abstenções). No segundo turno, esse índice atingiu 24,46%.

Nas eleições para prefeito em 2016, os votos brancos, nulos e abstenções superaram o 1º colocado em 10 capitais no primeiro turno e venceu o segundo turno em 11 capitais.

Em eleições suplementares recentes para governador em Tocantins e no Amazonas o desinteresse dos eleitores ficou patente. No Tocantins, a soma de votos brancos, nulos e abstenções chegou aos 61%, vencendo, de sobra, os votos válidos. No Amazonas, chegou aos 49,6%.

Sem qualquer intenção de acusação, mas, quem conhece as tramas escabrosas de fraudes em pesquisas, sabe que um dos caminhos menos problemático é exatamente o da manipulação de dados sobre indecisos, etc. É de se pensar, não?

De rombo

Pode não significar nada, apenas uma curiosa coincidência, mas a pesquisa do Ibope chama a atenção por não apresentar números fracionados. É toda fechada, redonda, diferentemente da divulgada pelo Correio, que está repleta de vírgulas. Os índices são 32%, 28%, 19%, 2%, 15% e 4%, não há quebrados. Pode até ser que seja método do Ibope, o de desprezar frações ou promover arredondamentos, mas não há, neste caso, como não se pôr uma pulga atrás da orelha, porque fica parecendo “levantamento de escritório”. Incomum, não?

É por estas e outras, e pelo velho e tenebroso histórico, que as pesquisas realizadas na Paraíba são muito pouco confiáveis.

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