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Bastidores: Atriz global prestigia solenidade de posse de prefeita do Litoral Sul da PB

Mlitante política da esquerda e uma das fundadoras do PT, a atriz global, Bete Mendes, roubou a cena, nesse domingo (1), durante a solenidade de posse da prefeita do Conde, Márcia Lucena (PSB). A presença da celebridade global chamou a atenção.

A atriz é amiga pessoal, há décadas, do ator paraibano Nanego Lira, esposo de Márcia Lucena. Eles se conheceram através do espetáculo Vau da Sarapalha, do grupo paraibano Piolin, conhecido internacionalmente.

Segundo pessoas que participaram do evento, Bete Mendes ficou entusiamada com as atividades culturais que fizeram parte da solenidade de posse da socialista.  Foram 12 horas de apresentações artísticas, culturais e religiosas, com apresentação de Coco de Roda, orquestras e bandas.

Essa não é a primeira vez que a global vem ao Litoral Sul da Paraíba. Ela é uma assídua frequentadora das praias da região. Vez por outra, passa férias na cidade e fica hospedada na casa da agora prefeita do Conde.

Trajetória política e artística

A atriz Bete Mendes, de 65 anos, tem um currículo extenso. Interpretou personagens em dezenas de peças de teatro, cerca de dez filmes e mais de 40 novelas e minisséries na televisão. Mas não precisou interpretar nenhum personagem para participar, há exatos 30 anos, de um momento decisivo na história do país. Na manhã de 15 de janeiro de 1985, uma terça-feira, Bete estava no Congresso Nacional. Foi dela, então deputada federal pelo PT, um dos 480 votos que elegeram presidente o ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves (PMDB), candidato de oposição. O governista Paulo Maluf (PDS) obteve outros 180 votos na eleição indireta. Em meio a gritos e a aplausos, anunciava-se o primeiro mandatário civil do Brasil, após 20 anos de governos militares.

O currículo político de Bete vale como resumo da história recente do Brasil. Antes da eleição indireta, enfrentou a ditadura, apoiou as históricas greves do ABC paulista, participou da fundação do PT e atuou no filme Eles não usam black-tie (1981), de Leon Hirszman – um clássico sobre as greves e a vida das famílias de operários no tenso clima político daquele momento. Por ter ajudado a eleger Tancredo Neves, ela foi expulsa do PT – o partido se recusou a votar no Colégio Eleitoral. Bete ainda participou do movimento pela anistia e se tornou parlamentar Constituinte pelo PMDB.

Vários fatos tornaram Bete Mendes a musa da oposição à ditadura. Filha de militar, ela se negou a cantar o Hino Nacional na escola, já em abril de 1964. Foi suspensa. Engajou-se, aos 19 anos, no grupo de esquerda Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (Var-­Palmares). Conciliava a vida de militante clandestina com o curso de ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP) e o papel de atriz de destaque na telenovela Beto Rock­feller. Pelos companheiros, era chamada por codinomes. Já os telespectadores da novela a conheciam como a apaixonada Renata. Foi quando passou pela primeira de duas prisões. Numa delas, foi torturada. Ela reconheceria o algoz anos depois, já deputada federal. Numa visita ao Uruguai, em 1985, descobriu que o torturador ocupava o posto de adido militar da embaixada do Brasil. Era o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Na campanha das Diretas Já, manifestações com até 1 milhão de pessoas reivindicavam a aprovação da Emenda Dante de Oliveira. A proposta defendia a eleição direta para presidente. Intelectuais e políticos de diferentes partidos se revezavam nos palanques. Bete participou de comícios em 40 cidades de 14 Estados em um mês e meio. Mesmo com a pressão popular, o projeto foi derrotado. Prevaleceu, numa sessão da Câmara dos Deputados de 25 de abril de 1984, a tese da eleição indireta. Ficou decidido que o sucessor do general João Baptista de Figueiredo sairia de um Colégio Eleitoral, grupo formado por 688 integrantes, incluindo deputados federais, senadores e delegados de Assembleias Legislativas.

A eleição de Tancredo só se tornou possível por meio de uma ampla aliança. Cerca de dois meses após a derrota da Emenda Dante de Oliveira, um grupo de políticos do PDS, sigla de sustentação da ditadura, criou uma dissidência: a Frente Liberal. Passaram a negociar um acordo com o PMDB, o partido que liderava a oposição. Formou-se a Aliança Democrática. Por meio dela, Tancredo disputou o comando do país, tendo José Sarney como vice. Sagraram-se vencedores. Mas Tancredo foi internado um dia antes da posse, marcada para 15 de março de 1985, e morreu em 21 de abril. Sarney foi empossado como o primeiro presidente civil pós-ditadura.

A eleição indireta provocou um racha no PT. O partido havia determinado que os oito integrantes de sua bancada se abstivessem. Os petistas Bete Mendes, Airton Soares e José Eudes confrontaram a decisão e votaram em Tancredo. Acabaram afastados e deixaram a legenda que haviam ajudado a fundar em 1980, e pela qual se elegeram deputados federais em 1982. Recentemente, Bete deixou a carreira política para se dedicar à dramaturgia. Seu papel de protagonista na redemocratização, porém, permanece na história.

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